Entre o Quadro e o Colegiado
Lições de uma Coordenação em Construção

Assumi a coordenação escolar há apenas dois anos, depois de uma caminhada de 24 anos em sala de aula. E confesso: nada substitui a experiência do chão da escola — esse lugar onde a teoria se prova, onde o aluno é mais que número, e onde a prática nos ensina mais do que qualquer formação acadêmica.
Nesse pouco tempo como coordenador, vivi em duas escolas distintas, com metodologias, direções e ideologias diferentes. Cada uma, um universo. Cada uma, um convite para reaprender.
A maior lição até aqui? Coordenação não é sobre autoridade, é sobre articulação. Não é sobre impor, é sobre sustentar — mesmo em meio ao cansaço, às pressões e aos desencontros.
🔹 Os desafios são muitos:
- Com os pares da gestão, é preciso cultivar harmonia sem anular divergências. Aprendi que uma equipe só se torna forte quando aprende a lidar com suas diferenças — e não quando tenta apagá-las.
- Com os professores, talvez esteja o maior desafio. São muitas cabeças, muitas ideias, muitas trajetórias. Ainda há, infelizmente, uma cultura enraizada que separa a gestão do corpo docente, como se fossem lados opostos. Mas não são. Somos todos educadores, e precisamos nos ver como partes complementares de um mesmo projeto: o desenvolvimento do aluno e sua formação integral.
- Com os pais, é preciso romper muros. Muitos chegam inseguros, outros defensivos, outros ausentes. O desafio é criar vínculos, abrir caminhos, torná-los aliados — e não adversários.
- Com os alunos, a missão é múltipla: acolher, orientar, corrigir, proteger, escutar. Ser presença. Ser ponte. Ser coragem. Um educador que se torna coordenador precisa aprender a fazer isso tudo ao mesmo tempo, sem deixar de ser humano no processo.
🌱 Mas os aprendizados são ainda maiores:
- Aprendi que liderar não é mandar — é inspirar, dar o exemplo, estar junto.
- Aprendi que cada sujeito tem seu tempo e que a escuta é o primeiro passo para qualquer transformação real. Aprendi que a gestão pedagógica é feita de decisões firmes, mas também de silêncios estratégicos, de olhares atentos e de palavras que chegam na hora certa.
- Aprendi a confiar mais no coletivo, a ceder sem perder o eixo, a errar e, sobretudo, a pedir ajuda.
- Aprendi que formar uma equipe unida não é um ponto de chegada, mas um processo contínuo, alimentado por pequenas conquistas diárias, por reconhecimentos sinceros, por confiança construída com o tempo.
- Aprendi a ampliar minha visão: a ver além da sala de aula, além das disciplinas, além das notas. A perceber que a escola é um organismo vivo, onde tudo está conectado — e onde cada decisão reverbera em muitos corpos.
- Aprendi também sobre mim: sobre meus limites, meus pontos cegos, minha capacidade de resiliência e de reinvenção. A coordenação me fez crescer como educador, mas principalmente como ser humano.
Coordenação é uma função que exige mais do que saber técnico: exige sensibilidade, escuta, flexibilidade, firmeza e paixão. É liderar com humanidade. É sustentar a escola com afeto e clareza. É transformar conflitos em pontes e diferenças em riqueza.
Essa função me ensinou que coordenar é, antes de tudo, acreditar. Acreditar na potência da educação, no valor do encontro e na força de uma equipe que se compromete com a mesma missão: formar sujeitos, não apenas estudantes.
Coordenar, para mim, é uma honra. Um chamado. Um exercício diário de esperança.
Ivo Fernandes