25 anos de pai
A paternidade, a beleza e o amor pedem o mesmo: olhos atentos e um coração disposto a recomeçar.

Ontem, em algum momento durante as compras no supermercado, minha filha mais nova me disse:
— Amanhã você fará 25 anos de pai.
Hoje, despertei aqui, na casa de praia. Só eu e as três razões da minha vida. Acordei cedo, visitei o quarto onde dormem algumas vezes e, em silêncio, agradeci à Divindade por essa graça. Há coisas na vida que não se conquistam por mérito ou força: são dádivas que nos escolhem, e ser pai é, para mim, uma dessas dádivas.
Ontem, juntos, vimos o pôr do sol. Mais uma vez, pude dizer a eles que a beleza pode salvar — não como fuga da vida, mas como forma de recordarmos que ainda vale a pena viver. Afastei-me um pouco para observá-los conversando. É uma das coisas que mais me alegra: ver que, para além do que ensinei, eles aprenderam a estar juntos. Celebrei que estivessem nesta casa, símbolo de anos de trabalho, esforço e esperança.
Depois, partimos para ver a Lua — uma dessas aventuras minhas, sem roteiro. Ainda na estrada, ela apareceu imensa, dourada, suspendendo por um instante o peso de todas as preocupações. Ficamos em silêncio, como quem entende que certas belezas não pedem tradução. Logo depois, rimos — porque a vida é feita também de risos inesperados. Voltamos, discutimos qual filme assistir; a mais nova decidiu: comédia, “para curtirmos como família”. Assistimos, comemos pizza, alimentamos o Gerald — o gato da vizinha que já adotou nossa casa como porto seguro.
Arrumei a cama. A mais nova quis dormir comigo; a mais velha e o do meio ficaram no outro quarto. Dei um beijo em cada um, abençoei, desejei boa noite. Depois, fiquei na rede, à porta de casa, como quem vigia o que mais ama. E agradeci mais uma vez.
Nesse agradecimento cabem também suas mães e minha companheira atual, que, juntas, me sustentam como pai — cada uma com sua presença e graça.
Agora, escrevendo, percebo que a mais nova já acordou com seu sorriso de sempre. Em breve, a mesa estará posta — com as compras de ontem e as histórias que construímos juntos. Passaremos o dia entre amor, respeito, insistência na companhia e a contemplação da beleza — porque, sem beleza, o amor cansa e o respeito se perde.
Que seja um belo dia. Mais um, nesses 25, 17 e 14 anos de paternidade.
(Pausa: a mais nova acaba de entrar no quarto, sorrindo, e, com a disputa leve de sempre, diz: “Fui a primeira a dar feliz dia dos pais!”. A mais velha já levantou; o do meio virá logo. Então encerro este relato, porque é hora de viver o que há 25 anos venho vivendo: a escolha diária de ser pai. E digo escolha porque ser pai não é um simples fato biológico — é uma decisão de permanecer, mesmo quando a vida nos chama para longe. Talvez seja isso que a paternidade, a beleza e o amor têm em comum: todos exigem um olhar atento e um coração que aceite recomeçar todos os dias.)
Ivo Fernandes